terça-feira, 16 de agosto de 2011

Seis em cada 10 roupas de luxo são feitas total ou parcialmente na China


 REPORTAGEM EXIBIDA NO JORNAL DA GLOBO DIA 10/08/2011

Após a China ser conhecida por vender produtos baratos para o mundo inteiro, país agora produz total ou parcialmente seis em cada dez roupas do lucrativo mercado de alta qualidade.

Produtos chineses estão tomando conta do restrito e lucrativo mercado de produtos de alta qualidade.
"Canadá, Itália, França". É nas viagens que a arquiteta Lucia Helena Monteiro renova o guarda-roupa.
- Já comprou roupa chinesa? “Chinesa? Não", responde.
Só em uma olhadinha rápida - no guarda-roupa da arquiteta Lucia -  e as etiquetas mostram a real procedência dos vestidos franceses, das calcas americanas, das bolsas italianas. Foram encontradas mais de 40 peças fabricadas na China. Reflexo de uma realidade do mercado de luxo: seis em cada dez roupas  já são produzidas total ou parcialmente na China.
Não é só roupa. A arquiteta italiana Francesca Alzati, à frente de uma das mais caras marcas de tapetes do país, explica porque trouxe 30% da nova coleção de lá.
“Porque acho que a indústria melhorou muito a gente foi ver ao vivo o que estava acontecendo e eu me espantei, achei o máximo, achei que aumentaram na qualidade”, explica Francesca.
Na rua mais chique de São Paulo, a Oscar Freire, a equipe do Jornal da Globo procurou várias lojas de marcas conhecidas mundialmente para saber se importam e o que importam do país asiático. Nenhuma que quisesse falar do assunto. As empresas sabem que a etiqueta made in China pode atrapalhar as vendas.
Para se ter idéia, um estudo recente, feito por uma universidade americana, apontou que 86% dos chineses talvez deixassem de comprar produtos do mercado de luxo se soubessem que foram fabricados na China.
O diretor da Câmara Brasil-China, Tang Wei, explica que o estigma de baixa qualidade vem dos anos 90. Mas a indústria superou essa fase. “A China deu esse salto, hoje nós encontramos empresas chinesas que fabricam produtos de qualquer outra qualidade do mundo”.
Nem todo mundo lembra, mas uma história parecida aconteceu com o Japão algumas décadas atrás. Dos robozinhos de lata aos mais modernos seres cibernéticos do planeta, o Japão deu um salto de tecnologia e qualidade em poucos anos.
As lojas de Tóquio, que recebem muitos turistas anunciam com orgulho: o produto é "made in Japan". É uma garantia de eficiência.
Mas nem sempre foi assim. No museu do brinquedo de lata, em Yokohama, os brinquedos são peças de museu e há colecionadores no mundo inteiro. Logo depois da Segunda Guerra Mundial, muitos deles eram feitos de latas de cerveja ou de conserva. Era a matéria-prima que o Japão tinha disponível. Foram os primeiros produtos "made in Japan" que milhões de pessoas, principalmente americanos, tiveram nas mãos.
Como eram muito baratos, eles dominaram o mercado nas décadas de 50 e 60 do século passado. O administrador do museu conta que os japoneses conseguiram introduzir movimentos e detalhes que os concorrentes não conseguiam fazer. Os brinquedinhos de lata passaram a ganhar admiradores pela qualidade e seguiam baratos.
Algo semelhante aconteceu com os automóveis. Os japoneses entraram no mercado dos Estados Unidos, com modelos pequenos e baratos para concorrer com os carrões americanos.
Logo, a tecnologia japonesa passou a se mostrar confiável e até chique, depois que entrou na moda ‘economizar combustível’. A lição foi aprendida pela Coréia do Sul e pela China: quem quer se tornar uma potência, um dia tem que trocar a quinquilharia pela tecnologia.